Ilustração: Isabele Linhares
1964
Ele sabe que o
sapo é perigoso. Pode soltar um leite que se pegar no olho pode cegar. A mãe
disse. De cócoras, observa a inércia do anfíbio. Um lampião ilumina a varanda
da casa de madeira. A mão larga a pedra há pouco pega.
Entra pela porta da frente,
silenciosamente. No final do corredor que se estende a partir da porta, ouve o
som da máquina de costura da mãe. Pé-ante-pé, entra pela primeira abertura à
direita. Aproveitando apenas a luz do corredor, abre o armário do quarto dos
pais. Tenta alcançar uma caixa de sapatos em um dos armários do quarto.
Consegue, mas junto à caixa, acidentalmente arrasta um pequeno trabalho em
gesso. De seu pai. Antes de rachar-se ao chão, a estátua tem o som da quebra
abafada pelo reflexo de sua mão. Curva-se, alerta. A máquina de costura
continua. Olha para a figura partida em duas no chão. Coloca a mão na boca e
encolhe a barriga. Cata as duas partes da estátua e as coloca atrás da caixa
que acabara de retirar.
De volta próximo do
sapo, ele desenrola os barbantes brancos. Caminha, vagarosamente, até os fundos
da casa. Ali, em um pequeno rancho, monta a armadilha.
É eficiente. Segura o
sapo, com força, usando a mão esquerda. A direita, com habilidade, tece nós com
o barbante. O tempo inteiro mantém os olhos protegidos pelos ombros.
Logo
que termina, salta para trás, desenrolando pequena parcela da totalidade do
rolo de barbante. O sapo pula. Ele tensiona. O anfíbio cai verticalmente, de
lado. Mas logo se recompõe.
Ele
manipula os fios. Correndo pelo cascalho, ora levantando os braços, ora
relaxando-os.
-
Pula, sapo! Pula!
Sorri.
De um lado a outro, pelo cascalho.
Há
um portão rudimentar na frente da casa. Ele ouve seu barulho. Suas mãos soltam
os barbantes. O pai surge na virada da varanda para o caminho de cascalho.
Isabele Linhares
Seu portfolio online: isabelelinhares.daportfolio.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário