Ilustração: André Ducci
Ao lado do Colégio Santos, perto da quadra de esportes do bairro. Sim. Do lado esquerdo. É lá que Soraia estaciona o carrinho. Uma moça baixinha, quase bonita. Muito calada, mas os olhos parecem já ter visto bastante. Faz o melhor cachorro-quente da cidade. Pode confiar, vou lá sempre. O quê? Não, nunca passei mal. A molecada vibra esperando ela chegar. A salsicha é meio durinha, cozida com um molho especial. Mais consistente, engancha nos dentes. Tem que mastigar bastante. O tamanho varia, não sei o porquê. Soraia nunca ri, só quando você pede pra ela fatiar o lanche no meio. É uma moça peculiar: confidenciou-me que estoca a matéria-prima no sótão de casa. Diz que conserva melhor. Pois é, não acabei de falar que ela era peculiar? Passa o dia ouvindo programa policial em um rádio velho de pilha. Ultimamente só rola notícia sobre os rapazes da região que estão desaparecidos. Ahn? É mesmo. Talvez ela esteja em busca de algum namorado perdido. Aparece lá. Ela dá pro gasto. E cozinha bem. Mas ontem ela não foi. Tenta amanhã.