Arte: Bruno Oliveira
Minha primeira passagem por Jacarezinho
foi em sessenta e três quando filmaram “Sugar Loaf” na cidade. Sempre fui fã da
atriz “Rhonda Fleming” e era a oportunidade única de vê-la de perto. Tive a
sorte de conhecê-la na Feira das Nações, quando o elenco aproveitou para
passear. Guardo o autógrafo até hoje, rabiscado no guardanapo de um pastel.
Esta semana publicaram uma matéria sobre
o tal lobisomem. Mas será que ninguém avisou aos jornalistas que onde há um, há
vários?
Só eu conheço quatro. O compadre Nito – irmão
do Francelino do Monjolinho, que sempre assa uma costela de padre franciscano
quando apareço por lá na Festa do Parapente – precisa ver que bonito fica o
céu, coalhado de atletas. De longe parecem gaivotas.
Nito é vizinho, inclusive acho que
também responsável, pela transformação do Tonico “Dente”, num dos lobisomens
mais vorazes e famintos que eu conheço. Dois metros de pura banha e pelos.
Tonico é capaz de devorar um banquete de três reis momos em menos de dez minutos.
Ele e Nito trabalham durante o dia nos
canaviais e me falaram que existem muitos outros camuflados na cidade. Contaram-me
até de um lobisomem crossdresser que participa de desfiles de criaturas transformistas
em eventos internacionais de Santo Antônio da Platina.
Outro que conheço é o João Picanha, do
açougue. Ele vende, discretamente, carne de humanos – moída, ninguém percebe a
diferença. Fornece, inclusive, a comida para o encontro anual dos lobisomens
lutadores de Vale Tudo que acontece todo mês de Agosto em Cambará, cidade
vizinha. Sempre que viajo a Jacarezinho, volto com um bom estoque de carne
humana. O “Jão” prepara bandejinhas só com dedos e orelhas. Prontos para
encaixar no espeto e enfiar na churrasqueira.
Me parece que esta fera vista pelos
moradores, usando boné, trata-se do compadre Aparício, da Rua Paraná. Sempre
com o bonézão do SENAC enfiado na cabeça. Dá aula para alunos dos cursos de
enfermagem e durante a noite faz plantão na Santa Casa. Não sei o que pode acontecido – de repente
bebeu demais na festa da padroeira ou contraiu gripe aviária. Os sujeitos acham
que porque são lobisomens, estão imunes a todo tipo de doença.
Tô falando,
mas nem sei se é isso. Preciso ligar para Nito, Jão... Eles devem saber melhor.
Coitado do compadre Aparício. Daqui a pouco a mídia esquece isso. O duro é que
apareceu até no Fantástico. Garanto que neguinho já vai vender camisetas e
broxes do lobisomem, na feira, esta semana, por lá. Se bobear, já está até na
internet.
Florestano Boaventura
Editor de uma revista de cordel, com temática horror, chamada LODO. A publicação circula pelos becos de Curitiba desde 1948, e foi relançada junto com a LAMA nº 2 em 2011.
Editor de uma revista de cordel, com temática horror, chamada LODO. A publicação circula pelos becos de Curitiba desde 1948, e foi relançada junto com a LAMA nº 2 em 2011.
Alguns contos podem lidos em: www.revistalodo.blogspot.com.br.
Bruno Oliveira
Seus trabalhos podem ser visualizados no site: www.flickr.com/oitoart.
Seus trabalhos podem ser visualizados no site: www.flickr.com/oitoart.
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