4 de abr. de 2012

À queima roupa

Texto: Mel Ferreira
Ilustração: Frede Marés Tizzot



Um telefone verde musgo sobre a mesa. Alô? Linha interrompida. Uma poça de sangue aumenta ao redor do corpo ainda quente. O tecido da camisa furado. Ouve-se a respiração diminuta. Lenta. Espaçada, mas contínua. Os passos rápidos e a porta que acabou de bater, prazerosa. Ligaram a ignição do carro. O motor sofre pela alta aceleração e embreagem presa. Vê-se a luz do farol se afastando. É o fogo. Na cozinha saem faíscas do micro-ondas. O plástico dos armários está derretendo. A madeira crepitando como se o interior da casa fosse uma grande lareira. O telefone continua fora do gancho, ocupado, enquanto outra pessoa tenta falar com Solange. Será que preciso levar a ração para o cachorro? O mercado fecha daqui a pouco e essa mulher pendurada no telefone! Tem rastros de navalha no rosto desfigurado de Solange. Ele não sabe disso. Quando seu carro aproximou-se do portão, ela já havia sumido. 

Mel Ferreira
Publica outros contos e narrativas em seu blog: http://eternoseefemeros.wordpress.com 

Frede Marés Tizzot
Formado em História e Direito, abandonou o mundo acadêmico para fundar a Editora e Livraria Arte e Letra, onde trabalha como ilustrador, capista, diagramador, editor, revisor, tradutor...

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