Ilustração: Frede Marés Tizzot
Um
telefone verde musgo sobre a mesa. Alô? Linha interrompida. Uma poça de sangue
aumenta ao redor do corpo ainda quente. O tecido da camisa furado. Ouve-se a
respiração diminuta. Lenta. Espaçada, mas contínua. Os passos rápidos e a porta
que acabou de bater, prazerosa. Ligaram a ignição do carro. O motor sofre pela
alta aceleração e embreagem presa. Vê-se a luz do farol se afastando. É o fogo.
Na cozinha saem faíscas do micro-ondas. O plástico dos armários está
derretendo. A madeira crepitando como se o interior da casa fosse uma grande
lareira. O telefone continua fora do gancho, ocupado, enquanto outra pessoa
tenta falar com Solange. Será que preciso levar a ração para o cachorro? O
mercado fecha daqui a pouco e essa mulher pendurada no telefone! Tem rastros de
navalha no rosto desfigurado de Solange. Ele não sabe disso. Quando seu carro
aproximou-se do portão, ela já havia sumido.
Mel Ferreira
Publica outros contos e narrativas em seu blog: http://eternoseefemeros.wordpress.com
Frede Marés Tizzot
Formado em História e Direito, abandonou o mundo acadêmico para fundar a Editora e Livraria Arte e Letra, onde trabalha como ilustrador, capista, diagramador, editor, revisor, tradutor...
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