Ilustração: Yan Copelli
O primeiro eu matei com estricnina, injetando o
veneno num pedaço de presunto. A estricnina é legal porque causa espasmos, que
depois se estendem para os músculos, com convulsões sucessivas. O bicho se
estrebucha no chão, gira prum lado e pro outro, até que morre por asfixia
ou por causa das convulsões.
O segundo deu mais trabalho. Tive que esperar a
família viajar pra Guaratuba, para invadir a casa e afogá-lo na piscina Regan da
filha mais nova. Me molhei inteiro, e o pior foi o cheiro de cloro nas mãos. Tive
que mentir para minha mulher que fui numa aula-teste de natação. Ela achou
estranho, claro, porque sabe o quanto sou sedentário. O máximo que faço de
exercício físico é jogar Wii nos finais de semana.
Testei também uma Zarabatana, que comprei de um índio
no Paraguai, com dardos embebidos em secreção de sapo. O problema é que errei o
alvo e acertei a bunda do jardineiro, que desmaiou e acabou perdendo os dedos
na máquina de cortar grama.
Depois disso, matei mais uns seis ou sete. A
maioria usando veneno mesmo, que faz menos sujeira.
Os poodles são os que me dão mais prazer, porque
são neuróticos e latem muito. Como eu odeio esta raça! Mas já dei fim também de
Yorkshire, Lhasa, Fox Paulistinha... Se o diabo tiver cachorro de estimação, só
pode ser Fox Paulistinha. Ô animal desgraçado.
Você deve estar pensando que eu sou um crápula, um
sujeito sem coração. Mas não é isso. É que você não mora no meu bairro. Não
sabe o que é passar um final de semana inteiro dividindo latidos com a
programação na TV. Dia desses tive até pesadelo em que a Patrícia Poeta e o
Zeca Camargo eram poodles humanizados.
Eu sei que não resolverei o problema matando e que
são muitos cães. Mas se eu conseguir eliminar os da minha rua e das quadras ao
lado, já fará uma baita diferença!
Fabiano Vianna
Brasileiro. Nasceu em Curitiba, Julho de 1975. Formado em Arquitetura e Urbanismo. Trabalha como diretor de arte, designer, ilustrador e escritor. Como escritor expressa sua literatura na forma de fotonovelas. Lançou em Outubro de 2009 a revista de literatura pulp, Lama. Em Junho de 2011, lançou a Lama nº 2. Gosta de Moleskines, fotonovelas, charutos, lambretas, gravatas, noir e literatura fantástica. Não fica nem um dia sem o café tradicional das padarias do centro da cidade. Mantém também o site de fotonovelas www.crepusculo.com.br e o blog www.contosdapolpa.blogspot.com.
Yan copelli
Seus trabalhos podem ser visualizados no site: yancopelli.com
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