26 de out. de 2012

Tentáculos

Conto: Otavio Linhares
Ilustração: Sueli Mendes


logo ao acordar notei tentáculos em meus braços. tatuagens, pensei. fui tatuado enquanto dormia. empurrei-a com o cotovelo. viu isso amor? são lindos, disse e voltou a dormir. levantei e fui tomar um banho. estavam por toda parte. nasciam das costas, do lado esquerdo. de uma bola de fogo. e eram roxos. sem ventosas. nas pernas eles eram mais finos e balançavam. dentro do olho cortavam a pupila ao meio e eram pretos. bem finos. as pálpebras abriam e fechavam. ora pra cima e pra baixo, ora pros lados. e os cabelos haviam sumido. interessante, minhas gengivas estão negras e os dentes amarelados. toquei as cavidades ao lado da cabeça. e elas tem a profundidade de um dedo. há mais duas dessas na região da pélvis. alguns tentáculos maiores nas costas. de vez em quando se descolam e tentam agarrar os objetos que estão por perto, principalmente os amarelos e vermelhos. eles os quebram e os largam no chão e logo procuram por algo novo em que tocar. porque estão me arrastando pra fora do banheiro? dois deles se lançam contra o corpo da minha namorada e a penetram na vagina e na boca com velocidade. me desequilibro e caio de costas sobre ela. todos atacam ao mesmo tempo. eles a absorvem em poucos segundos. sinto a energia dela atravessando para o meu corpo. fluindo em minhas veias. aos poucos os tentáculos vão sumindo de mim. um vazio toma conta do quarto. olho meu corpo e ele está limpo dos desenhos. agora tenho grandes seios e um quadril largo. lábios grossos e cabeleira ruiva. toco meus buracos. 

Otavio Linhares
Seus textos e contos podem ser visualizados no site:  otaviolinhares.wordpress.com

Sueli Mendes
Seus trabalhos podem ser visualizados no blog: 
bigandlittledreams.blogspot.com

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