Conto: Raro de Oliveira
ilustração: Antonio Dias
O casamento era insuportável. Sua mulher transformara-se numa chata repressora cheia de regras. Cartas de amor, recordações de namoro, lembranças da animada juventude foram todas entulhadas no sótão. Pra lá ele recorria secretamente nos momentos de agonia, livrando-se por algumas horas daquela opressora. Naquele dia quando subiu ao seu templo secreto teve uma surpresa. A megera havia arrumado o sótão! Havia limpado, encerado, organizado tudo. Procurou desesperado por seus tesouros e não encontrou nada, principalmente suas revistas de mulher pelada! O que seria da sua vida sem suas punhetas solitárias? Levantou uma caixa que pertencia à megera e o fundo se rompeu com o peso. Lá estavam as revistas perdidas. Não só as suas, outras também, de homens nus avantajados, e nas capas o nome dela escrito à caneta Bic. Ouviu o gemer do degrau que levava ao sótão e na contraluz sua mulher lhe fitava com um olhar feroz. Se atracaram em uma luta selvagem, cheia de ódio. Caíram exaustos sobre as tranqueiras e fizeram um amor bruto, pornográfico e sujo no colchonete surrado e cheio de manchas da sua juventude.
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