Conto: Fabiano Vianna
Eu sofro de um mal: medo de sótãos. O maldito espaço
desocupado em cima de casa não me deixa trabalhar. Todos conhecem a fama dos
sótãos né? Habitat de vampiros, fantasmas, surfistas e outras coisas pavorosas.
Me mudei faz pouco tempo. O corretor imobiliário não me
falou deste aterrorizante vazio entre as treliças quando me mostrou a casa.
Porra. Há meses que não consigo trabalhar. O som do nada domina meus
pensamentos.
Não existe coisa pior do que isso. Nem mesmo as músicas da
Paula Fernandes.
De vez em quando ligo para o técnico da GVT e invento um
problema no sinal da internet só para que ele suba e conte o que (não) viu. É
um alívio quando o técnico me diz que não há nada além de pó e fios. De vez em
quando uma pequenina aranha-marrom.
Mas não resolve, porque basta o técnico colocar o pé lá fora
para que o incômodo volte. O sinistro
som do vazio que não me deixa pintar.
Minhas aquarelas estão ficando horríveis por causa do sótão.
Centenas de papéis (caros) desperdiçados.
Terei que fazer alguma coisa urgente. Transformar o sótão
numa sala, talvez. Levar um sofá para lá. Será que um cômodo vazio com um sofá
torna-se uma sala? Mesmo estando perto das treliças? Ou continuará sendo um
sótão? Não sei, mas será ao menos uma boa vingança. Por todas as aquarelas que
ele estragou.
E depois que resolver isto, ainda terei outro desafio ainda
maior a enfrentar: a sacada!
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