Ilustração: Igor Oliver
No começo, quando os primeiros apareceram eu me assustei um pouco. Não é das coisas mais confortáveis do mundo topar com um Caetano passando pela sala em direção à escada do sótão. Alguns, de vez em quando, esboçam um bom dia, boa tarde, ou não. Mas nem todos. Os mais rabugentos até reclamam da altura da televisão. Munidos de violões, tranquilos e infalíveis – como Bruce Lee. Não sei como cabem tantos Caetanos lá em cima. A laje deve ser grossa. Ensaiam canções. E eu, que sempre gostei do silêncio. Pintar aquarela também não dá... Agora eles estão por todos os lugares. Não só no sótão. Na cozinha, no estúdio, sobre o criado-mudo do meu quarto, na geladeira. Devoram as bolachas, fazem café, comem as provisões. Estão pela casa toda. Aqui mesmo, ao meu lado. Acotovelam-se, apertados. Disputam os espaços restantes entre um e outro Caetano. São tantos que eu preciso pedir licença para ver a tela.
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