Fotografias: Marco Novack
Conto: Paulo Biscaia Filho
Estrelando: Luiz Bertazzo
Maquiagem: Andréa Tristão
- Figurino: Day Bernardini
- Apoio: Trio Iluminação & Cia Senhas
… o pequeno se esforçando para chegar ao oito. Vitorino está só. Olha
para o teto buscando ver horizonte, mas não existem curvas no mundo quando
você…
Vitorino busca a lembrança de Anastácia. A bela Anastácia - a verdadeira
- cuja pele de porcelana...
Os laços de cetim no cabelo cacheado não eram tão perfeitos como as
rosadas bochechas de seu rosto. Quantas vezes Vitorino olhou por baixo daquele
vestido de renda e procurou alguma coisa ali? Sua cabeça afundava em meio a
suas pernas e ele a provocava, mas ela mantinha sua expressão congelada.
Nenhuma careta? Mesmo?
Apenas um sorriso protocolar de quem deseja ser simpática. Mais nada.
Não ofegava. Não deixava nenhum lábio mordiscado. Nem mesmo seus olhos fechava.
Não gritava. Anastácia certamente não o amava. Vitorino se deita novamente e
com a ponta de seus dedos...
... que foi o momento onde as lembranças de Vitorino deixaram de
circular pelos olhos que ele não sentia mais ter. Percebeu suas roupas
amassadas e tentou ajeitá-las, mas, no meio de um movimento para tentar alisar
um engruvinhado, interrompe. Ele apreciava as rugas de sua roupa. Em seu rosto
não havia nenhuma, mas havia na roupa. O peso de tudo o que fez não estavam em
sua face, apenas nas rugas da roupa. Dedicou-se a contemplar toda sua história
em cada dobra jamais removida. Lembrou de suas aventuras em minha infância.
Quando ele não pensava em Anastácia, mas apenas em escalar um Everest
imaginário feito de pilhas de livros que minha mãe deixou espalhados anos antes
de sua temporada no hospital onde...
A outra Anastácia trazia o jantar sem tempero e insatisfatório que é
típico desses lugares. Ela sempre vinha as sete e meia. Eu sabia disso pois via
os ponteiros no relógio ao lado da porta. Me presenteava com uma xícara de chá
por que era "bonito um filho que não sai de perto da mãe". A outra
Anastácia era uma mera empregadinha que merece... Não, não, ela era...
... pelos corredores tentando não pensar. Como ele conseguia pensar? Ele
era apenas...
... um tapa bem dado em seu rosto. "Meu deus, ela está morta e você
quer brincar de que?"
... não era para...
... "embora daqui e enterre sua mãe como ela merece".
Perguntei murmurando pra mim mesmo se ela realmente merecia algo. "O que?
Fale direito!!". Ela sabia como gritar. Eu gosto de uma mulher que sabe
exatamente como ...
Vitorino continuava olhando para o teto. A campainha bate. Me arrependi
depois de ter caminhado lentamente até a porta. Se soubesse antes que era ela,
teria voado. Certamente veio pedir desculpas. Santa campainha! Ela estava aqui
em casa! A outra. A de carne. Que ideia! Poderíamos subir o Everest juntos! Ela
certamente adoraria iss...
Boneco? Que Boneco?
"Esse que está aí na sua mão."
Nada ele só é uma coisa que eu tenho e ... Entre.
..."É que você tá?" ... Bem ... "... não deveria ter dado
um tapa na..." ... Tudo bem, eu acho que eu merec... "então eu vou
ind..." quando ela se levanta, curva seu corpo para frente e eu consigo
ver seus seios por baixo da blusa de alças e deixo escapar um gemi... Não!!!
Fica mais um pouco. a gente pode tomar chá! ... Segurando pelo braço... ela
grita, mas não com raiva. Pelo menos eu acho que não era com raiva. É bom o
som. Sinto crescer meu ... No chão! ... "Pára!" ... Eu não... Mão
esquerda na garganta e a direita... Entra... Grita mais ... Se debate...
Ofega... Seu rosto é um moto-contínuo de caretas de horror e dor e pânico e ...
Acho engraçado e continuo... ela sente algo .... Isso é bom, não é? Ter alguém
que faça te sentir alguma coisa? .... e eu também sinto ... Quando o meu corpo
treme e minha mão esquerda sente um estalo... Ela não faz mais caretas. Só uma.
É sem graça. Não tem nada. Nada. Nem mesmo o sorriso protocolar.
ESTÁ NA HORA DO CHÁ, VITORINOOO!!!!
Vitorino e Anastácia - a verdadeira - estão à mesa. Comportadinhos e bem
arrumados como deve ser. Ela está de roupas diferentes. Um lindo vestido de
renda e fita no cabelo. Ele carrega o mesmo uniforme de tantas aventuras. A
felicidade é tão grande que Vitorino resolve estender sua perna comprida por
baixo da mesa e em meio ao vestido...
Ela não faz caretas. Ela certamente não ama Vitorino.
... choro...
...cabeça cai na mesa...
Vitorino estende sua mão. Ela é dura e com pedaços descascados e
sem tinta que revelam a verdadeira cor de seu material. Estende sua mão sobre
minha cabeça e me faz cafuné.
... Não faço caretas, apenas olho para frente e vejo o relógio na parede
com o ponteiro grande no seis e...
Paulo Biscaia Filho
Diretor da companhia de teatro: http://www.vigormortis.com.br
Publica suas imagens no site: http://www.marconovack.com.br
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