Texto: Paco Steinberg
A história é curta, então presta atenção.
É de um cara que rouba ideias.
Não, não é clichê nem tão legal quanto você está pensando.
O nosso personagem é o seguinte. Faltava nele a capacidade
de desenvolver a coisa, então não posso dizer que aproveitou 100% do dom que
sei lá quem lhe deu.
Descobriu que sabia fazer o que fazia depois que seu
cachorro, o Cachorro, morreu.
-Sempre quis saber o que ele pensava. Acho que vou abrir sua
cabeça e mastigar um pedacinho do cérebro, mas só mastigar, porque comer deve
ser pecado.
Aí foi lá e abriu e deu umas mordidas, e olha só, descobriu
que o Cachorro não gostava dele. Que mijava escondido em suas roupas penduradas
no sol. Não era problema do desodorante, então.
Aí pensou que tivesse mais criaturas sacaneando com ele. Ficou
puto e resolveu abrir a cabeça do bairro inteiro.
O primeiro foi o dono do bar, o português, com aquela camisa
xadrez duvidosa do caralho. Ele tinha uma barba brilhante lambida igual ao
cabelo, parecia um pirata porco. Sempre com os olhinhos virados, como se
estivesse tirando sarro de algo, pensando besteira ou quem sabe até gozando,
tem que gente faz isso tão fácil.
Tá, o ladrão foi pro bar e papo vai papo vem levou o portuga
pra casa com uma desculpa esfarrapada. Jogou droga no copinho de licor e o
portuga ficou todo molinho na cadeira. O personagem pegou uma faquinha de
manteiga e começou o trampo. Pegou um pedacinho da frente do cérebro, bem perto
do olho, pra ver se de repente vinha alguma coisa que ele tinha visto também.
Descobriu que não tinha nada a ver, mas também descobriu que o português era
afinzão dele faz tempo e uma receita de bolinho nova que ele tinha achado no
livro da avó. Porra. Aquele bolinho. Vou vender pra caralho.
Trabalho terminado, pensou em costurar a cabeça do cara de
volta e fingir que nada tinha acontecido, mas porra, o cara morreu, e agora.
Como não sabia onde jogar o corpo, fez bolinho com o cara mesmo.
O resto é de se imaginar. O dono da loteria, a servente
da escola, o gari, a atendente da padoca
e até o Carlão chupa-chupa, um loirão que fazia ponto do lado da casa do
personagem. Carlão se fodeu, virou bolinho e perdeu todas as aulas de pole
dance pro vizinho esquisito, que apesar de meio gordinho mandava ver no cano.
O personagem, apesar de seus sequestros voluntários e
discretos, caiu na boca do povo porque sempre tem um filho da puta que vê
alguma coisa e quer contar pros outros e blábláblá. Filho da puta virou bolinho
também. Mas o filho de uma puta (agora sim, adjetivo) tinha uma ideia genial,
alguma coisa relacionada com estratégia comercial e internet e rede social. Porra!
Precisava de dinheiro pra montar o negócio. Resolveu mastigar o dono do banco.
O velho insistiu pra conversa no bar terminar na casa dele, morava sozinho, ah
um bolinho a menos não dá nada, vou ficar rico mesmo.
Entrou no carro do cara e de repente putz, que sono. PUTZ.
Seus trabalhos podem ser visualizados no site: yancopelli.com
Paco Steinberg
Nasceu em 1979. Bacharel em Letras pela UFPR, tradutora, crítica de arte, bicho urbano. Gosta de fumaça, solidão, polêmica, observar humanos e piadas infames. Sua cor preferida é o sangue. Tem medo de aranha, de escuro e de gente muito feliz. Autora dos livros Persona (2003), Vem Cá que Eu te Conto (2009) e Jack & Bob (2010). Inspiração: rodas de conversa no café com muitas risadas e sustos. Método de escrita: atrás da porta.
Seu quarto: omundopolemicodapaco.blogspot.com
Seu escritório pulp dump anticult: estacaoliteratura.blogspot.com
Troca figurinhas com escritores tupis todo dia 19 em: www.manufatura.blogspot.com
Seu quarto: omundopolemicodapaco.blogspot.com
Seu escritório pulp dump anticult: estacaoliteratura.blogspot.com
Troca figurinhas com escritores tupis todo dia 19 em: www.manufatura.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário