Conto: Paco Steinberg
Ilustração: Gihad Hak
“Quieta! Fica quieta! Olha que eu te mato! Vou te foder, sua piranha, e
é melhor você ficar bem quieti... mas que porra é essa?”
-Você tá brin-can-do que ele foi grosso desse jeito?
-Pois é.
-Amiga, como assim? O cara não viu que você tava se transformando? Ui,
homem é muito devagar, né. Lua cheia, a louca entupida de pelo uivando pra lua,
ele acha que é o quê? Tpm?
-Ai, zumbizete, fica quieta, deixa ela terminar de contar.
-Então. Eu dei uma torturadinha antes de matar, né? Quebrei uns dedos, furei
os dois olhos, arranquei um braço, básico. Ele sangrou um monte, ui que nojo.
Ainda levantou e saiu correndo! Acredita?
-Gente. Tô passada.
-Tá nada, esse seu lençol tá um horror! Fantasma neoclássica é uó.
-Ei, não fala assim da Mary Antonieta! Olha o bullying! Deixa eu falar?
CON-TA! CON-TA!
-Então... aquele tarado fajuto começou a correr que nem um desesperado,
gritando muito! Medo! Acho que ele era de Sagitário, ui, odeio gente exagerada.
Corri demais atrás dele.
-Ai, que fim de carreira. Eu nem me dava o trabalho.
-Pra você é fácil, né, querida, pega a vassoura, dá uma voadinha e
pronto! Além disso, eu tinha acabado de fazer as unhas da pata! Ui, que ódio.
-Ai você fez francesinha dourada! Que tudo!
-Pois é, vim retocar. Gentem, deixa eu falar! Então, quase desisti de
correr atrás daquele infeliz, mas com o tanto de carne que ele tinha, não podia
deixar passar.
-Amiga, sério, eu jamais comeria um cara que quisesse me estuprar.
-Lógico né, zumbizete. Você come cérebro, eu como carne! A carne não tem
pensamentos.
O salão de beleza de criaturas rompeu em gargalhadas.
-Ui, que cadela burra. Para de pintar esse pelo de loiro, hein?
-Você que fez minhas mechas, fica na sua. Mas hein, deixa eu contar...
fiquei com tanta raiva por ter estragado a minha unha que antes de matar,
arranquei o pau dele e deixei correr mais uns 400 metros.
A zumbi colega se rachou de rir.
-Tá certa, amiga, tortura boa é quando a pessoa acha que vai sobreviver.
-Ah, eu ia torturar mais, sabe, gosto de começar a comer a pessoa ainda
viva.... mas o retardado começou a chorar, daí a carne fica dura, né!
-O sofrimento me excita.
-Credo, você tem que se reinventar, amiga! Vampiro tá off.
-Se liga, zumbizete! Vampiro é que nem estampa de oncinha, tem desde a
antiguidade e sempre volta pras prateleiras!
-Sabe tudo, a bafo de urubu! E você, hein... loba má! Nem lembra das
amigas!
-Como não, flor? Olha aqui, trouxe a cabeça dele pra você!
-Humm, delícia! Ih, meninas, olha lá na porta, tem um mané de sobretudo
preto nesse calor dos infernos! Deve ser parente da bafo de urubu...
-Não fala assim do meu irmão! E para de me chamar assim!
-O salão é meu e eu falo como quiser!
-Ah, é?
SEPARAAAAAAAA
Paco Steinberg
Nasceu em 1979. Bacharel em Letras pela UFPR, tradutora, crítica de arte, bicho urbano. Gosta de fumaça, solidão, polêmica, observar humanos e piadas infames. Sua cor preferida é o sangue. Tem medo de aranha, de escuro e de gente muito feliz. Autora dos livros Persona (2003), Vem Cá que Eu te Conto (2009) e Jack & Bob (2010). Inspiração: rodas de conversa no café com muitas risadas e sustos. Método de escrita: atrás da porta.
Muito bom! Espirituoso e divertido!
ResponderExcluirMuito bom o texto e a ilustração!
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