8 de out. de 2012

Ahlamn

Conto: Yusef Al Ayub Hudhayfah
Ilustração: Frede Tizzot



Aqueles que aportam em Ahlamn já são finados ou encontram a morte em suas terras malignas. Cidade de matadores e facínoras. O sangue escorre pelos troncos das extravagantes árvores Dracaena Cinnabari ≈ apelidadas também de Sangue de Dragão.
Cerca de 5.000 pessoas vivem na ilha principal em atividades como pecuária, agricultura e pesca.
Apesar de ser considerado um paraíso, a maioria dos habitantes são fugitivos de outros sítios. Procurados ≈ para a captura de alguns deles são oferecidas muitas moedas Zildar. Os assassinos sobreviventes, que são caçados como bichos, escondem-se entre as florestas milenares de Ahlamn ≈ vivendo em cabanas isoladas ou em grutas na região de Khulud, na parte sul da ilha. Khulud é uma cidade dentro da cidade. Um sítio que cresce para baixo, em direção ao subterrâneo. Túneis se alastram, como se emulassem o caminho das minhocas.
Há uma lenda que circula pelo povoado, que toda pessoa de bem que morre em Ahlamn, passa a viver em uma cidade acima. Um vilarejo flutuante, acima das nuvens mais altas. São grandes blocos de terra, pastos e construções conectadas por pontes suspensas. Mas não se sabe se ela esta lenda é real. Assim como as histórias de que existe uma cidade subterrânea na região de Khulud, fundada pelos malfeitores.
Se estas versões forem corretas, Ahlam forma um tríptico, como aquela famosa pintura de Hieronymus Bosch O Jardim das Delícias Terrenas.
Há quem diga também que entre os mortos na cidade de cima, moram deuses e criaturas fabulosas. Ouvi, certa vez, numa taverna em Amtullah, que ao olhar para céu, às vezes é possível ver vacas e carneiros alados flutuando entre as nuvens. Talvez o Nazar, ≈ o Olho Turco, esteja escondido lá. Guardado por um rei de outrora, ou inocentemente exposto entre demais tesouros de civilizações remotas.
O problema é como chegar até esta cidade sem estar morto.
Também pode ter sido roubado pelos saqueadores de Khulud.
E se tudo isso for verdade, Ahlamn é apenas um porto intermediário. Entre o habitat dos deuses e o mundo subterrâneo. 

Yusef Al Ayub Hudhayfah 
Nasceu em Teerã, em 1977 e hoje vive em São Paulo, Brasil. Começou a escrever aos 18 anos e publicou em 2008 seu primeiro livro de contos, “Almas” pela editora “Mizmar”.

Frede Marés Tizzot
Formado em História e Direito, abandonou o mundo acadêmico para fundar a Editora e Livraria Arte e Letra, onde trabalha como ilustrador, capista, diagramador, editor, revisor, tradutor...

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