8 de jun. de 2012

O Caso da Morte do Mutreta (Parte 5)

Texto: Eduardo Capistrano
Ilustração: Foca Cruz




Parte 5

Nem esperou os policiais chegarem. Não deixou rastro de dinheiro para ser encontrado. Talvez considerassem uma overdose acidental e tardariam a descobrir quem era a vítima, demorando para alertar Correia e os novatos. Estudou uma maneira de pegar a caixa sobre a marquise e acabou estacionando o Chevette embaixo dela, colocando um engradado de cerveja em cima do carro e equilibrando-se sobre ele com muito cuidado. Puxou a caixa com a ajuda de uma ripa. Além de mais algumas notas, dentro havia um pequeno álbum, daqueles fornecidos pelo laboratório que revela as fotos. Três fotos felizes de Célio Silva e a Nega Maluca, dentre plásticos rasgados de outras fotos arrancadas à pressa. Guerra sorriu. Tinha ido atrás da caixa apenas pelo dinheiro.
Estava certo de ter visto o lugar de uma das fotos, com data de alguns dias antes. Manteve-a sob um elástico no quebra-sol do Chevette. Queria que ficasse à vista, para ver se lembrava de onde ficava aquela rua, aquela parede azul-calcinha, aquele símbolo que havia sido cortado pela metade, atrás de Mutreta e sua amante morta. No meio do seu jantar de x-salada e suco, se recordou. O símbolo era de um motel de beira de estrada que não visitava há muito tempo. Terminou o sanduíche no caminho para lá.
Era depois da meia-noite quando chegou. Parou uma quadra antes do motel e andou a pé. Um rapaz foi o tempo inteiro na sua frente e entrou no motel também. O rapaz era um funcionário, que assumiu o balcão e prontificou-se a oferecer um quarto, dizendo entre piscadelas e cutucadas de cotovelo que podia estacionar no motel, pois o sigilo era absoluto.
Descobriu com uma nota de cinquenta que não era tão absoluto assim. O casal da foto havia se hospedado no quarto 27, sem deixar qualquer registro. O homem do casal ainda estava hospedado. Por mais cinquenta, saiu do saguão com uma chave para o quarto.
Alcançou a porta com o revólver em mãos. Anunciou-se como serviço de quarto, batendo na porta. Sem resposta. Usou a chave e entrou rapidamente, trancando a porta atrás de si. No interior, um homem nu estava amordaçado, vendado e amarrado sobre a cama. Começou a se debater assim que notou alguém no quarto. Seu porte estava entre as semelhanças que tinha com Mutreta, mas não era ele. Explicou quem era antes de tirar apenas a mordaça, e o fez. O homem choramingou em mal português que só lembrava de estar bebendo em um bar para acordar ali.
O prisioneiro perguntou porque Guerra não o libertava. O investigador recolocou a mordaça, sem mencionar a corda com o nó de forca pendendo do forro do quarto. Deixou o homem se debatendo, apagou as luzes e esquadrinhou o apartamento só com a lanterna, atento a qualquer som do corredor. Nada havia encontrado quando notou que a porta estava sendo destrancada, e jogou-se atrás das cortinas.



Eduardo Capistrano
Nasceu em Curitiba, Paraná, no ano de 1980. Contista desde 2002, é autor de "Histórias Estranhas" (2007) e "A Quarta Dimensão" (2011).
Saiba mais em http://edcapistrano.blogspot.com

Foca Cruz

Luiz Alberto Cruz, Foca, parnanguara, primeira lembrança na vida foi ver Neil Armstrong numa tv preto e branco andando feito um bobo na lua. Nessa época já existiam dinossauros e os carros de corrida na oficina do lado. O primeiro livro lido foi "Viagem à Lua" de Julio Verne. Ganhou do irmão pintor uma "Rotring" 0.3 aos 10 anos, daí em diante fodeu, pois logo ficou claro de fato que desenhar é como tocar violino em público: ou é muito bom ou da ânsia de vômito. Adam West. Também o do próprio: www.focacruz.wordpress.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário