7 de jun. de 2012

O Caso da Morte do Mutreta (Parte 4)

Texto: Eduardo Capistrano
Ilustração: Foca Cruz



Parte 4

Enquanto isso, o detetive procurou confirmar a hipótese de que nenhum dos dois cadáveres era Mutreta, gastando algum tempo indo atrás dos cinco nomes que os novatos esperavam conectar a ele. Dois já estavam mortos há muito tempo. Os outros três estavam desaparecidos. O mais recente, um elemento conhecido por “Champinha”, havia sido visto pela última vez apenas alguns dias antes, em um restaurante de beira de estrada. Todos estavam no meio das conexões entre o banco que fora assaltado e Mutreta. Removendo-os, a conexão estaria eliminada.
Tornou-se prioridade para Guerra encontrar quem podia ter respostas verdadeiras. Aquela conhecida de Célio Silva que não havia encontrado antes podia ser a única. Só a conhecia pelo apelido de Nega Maluca. Mutreta gostava muito da Nega, mas ninguém sabia o quanto. Guerra apostava que era sua amante, daí o mistério quanto à relação. Esquadrinhou os pontos preferidos de Mutreta, os verdadeiros, e não os que se diziam como tais para atrair a atenção da mídia e de fregueses impressionáveis. Por um módico “cinquentinha” arrancou o paradeiro da Nega.
O ex-policial esperava que Mutreta tivesse arranjado lugar melhor para esconder uma namorada. Talvez ela não fosse nada disso. O cortiço formado por dois prédios abandonados e uma viela ficava em uma área não recomendada perto do centro da cidade. Guerra entrou no lugar com a arma em mãos. Corredores repletos de lixo pareciam indicar um lugar desabitado, mas de susto quase meteu uma bala na cara de um viciado que cambaleou sobre ele, saído de um dos muitos apartamentos vazios.
Devolveu o viciado ao apartamento com tapas e xingamentos. Em resposta à comoção que causou, ouviu gritos e barulhos um andar acima, que era para onde se dirigia. Correu para as escadas e subiu apressado, a tempo de ver alguém correndo sumir no fim do corredor. O investigador chegou à porta por onde o vulto saiu, lançou um rápido olhar para dentro e mesmo sua “casca grossa” de policial veterano perdeu uma lasca. Em um pequeno e agradável apartamento no meio daquele antro imundo, envolta apenas nos lençóis sobre uma cama abarrotada, uma polaca de generosas carnes róseas se contorcia e cuspia uma espessa espuma branca, tendo três seringas enfiadas no braço direito.
Guerra já amaldiçoava a própria burrice assim que arrancou as seringas, tentando com uma mão ligar para uma ambulância com o telefone ao lado da cama, enquanto a outra abria a mandíbula travada da mulher para evitar que engasgasse com a própria língua. Quando finalmente conseguiu completar a ligação, o volumoso corpo da Nega Maluca já havia parado de convulsionar, a língua caindo flácida fora da boca. Deveria ter corrido atrás de quem fugira. Trocou o pedido de ambulância por um rabecão.
Antes que Correia e os outros chegassem, Guerra teve bastante tempo para examinar o apartamento. Havia indícios suficientes para determinar que alguém estivera residindo ali com a Nega, já fazia algum tempo. Havia roupas de homem com as dela e camisinhas novas e usadas ao lado da cama. Um rastro de notas de dinheiro amassadas levavam de uma caixa de sapatos no armário até uma janela escancarada. Da janela, enxergou uma caixa metálica sobre a marquise do prédio vizinho, contendo, ao que parecia, mais dinheiro.


Eduardo Capistrano

Nasceu em Curitiba, Paraná, no ano de 1980. Contista desde 2002, é autor de "Histórias Estranhas" (2007) e "A Quarta Dimensão" (2011).
Saiba mais em http://edcapistrano.blogspot.com

Foca Cruz

Luiz Alberto Cruz, Foca, parnanguara, primeira lembrança na vida foi ver Neil Armstrong numa tv preto e branco andando feito um bobo na lua. Nessa época já existiam dinossauros e os carros de corrida na oficina do lado. O primeiro livro lido foi "Viagem à Lua" de Julio Verne. Ganhou do irmão pintor uma "Rotring" 0.3 aos 10 anos, daí em diante fodeu, pois logo ficou claro de fato que desenhar é como tocar violino em público: ou é muito bom ou da ânsia de vômito. Adam West. Também o do próprio: www.focacruz.wordpress.com

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