Ator: Marlon Anjos
Fotografias: Marco Novack
Arte: Marja Calafange
Figurinos : Day Bernardini & Renata Luciana
Maquiagem : Carol Suss e Dalvinha Brandão
Apoio : TRIO LUZ, XIK & COUVE -FLOR Minicomunidade Artística Mundial
Arte: Marja Calafange
Figurinos : Day Bernardini & Renata Luciana
Maquiagem : Carol Suss e Dalvinha Brandão
Apoio : TRIO LUZ, XIK & COUVE -FLOR Minicomunidade Artística Mundial
Estrelando:
Demi, a Fina
Darlene, a Gentil
Stephânia, a Bruta
Para mim era como uma dessas inúmeras
lendas urbanas e só. Sabia claro da existência das mortes em confrontos
patéticos entre nós e... Essa gente!!!!
Campos de batalhas em saídas das
boates, nos calçadões de madrugada, mortos deste e daquele lado, as nossas
baixas sempre acreditei não passarem de um amadorismo dos nazi-novatos, uma
mistura de ansiedade por sangue e a força descomunal dos saltos afiados no
asfalto. Qualquer rumor de seres bestiais enviados da morte de batom pareciam
delírios daqueles que sobreviveram ao confronto e que de nós recebiam a correta
punição com sangrias, rituais medievais para purificar o sangue fraco e
derrotado.
Este sangue que sinto agora na minha
boca é um sangue puro, não tem o cheiro, nem o gosto do sangue ralo daquelas
ovelhinhas fracas da fraternidade, é o gosto vermelho de um de nossos melhores
homens, coagulado em anos de honra defendida por nossos coturnos, servido agora
em uma taça de espumante. Na borda do cristal uma grosseira gordura cor-de-rosa
de mancha de batom. Elas provam e servem pra mim o líquido que até pouco tempo
atrás corria nas veias de Talles.
Talles e eu crescemos juntos na vida e
nas botinadas nas faces das bestas, casei-me com sua irmã, uma loira leite, tal
qual meu filho que nasceu ontem. Éramos só comemoração, um legitimo pura raça,
as transparências da pele fina dele revelavam um emaranhado de veias azuis que
me enchiam de orgulho. Em uma delas eu tenho certeza, eu vi o símbolo cruzado,
feito minha tatuagem que carrego no peito esquerdo. Talvez pela emoção
carregada estávamos desatentos, havíamos acabado de liquidar uma dessas frágeis
borboletas bêbadas, sozinha na saída de um de seus antros no centro histórico
da cidade, era uma noite de comemoração. –“ Uma borboletinha de leve!!”, como
dois amigos que saem para tomar “uma cervejinha de leve” num happy hour depois
de uma promoção. Não queríamos grandes emoções, só pichar o asfalto de vermelho
e voltar pra casa.
Descendo pela rua escura vimos algo
como um brasão correndo em nossas direções, sou surpreendido por um cheiro de
perfume doce misturado a um suor de armaduras. Não sei bem ao certo como me
deixei golpear. Com os olhos cerrados no chão só pude ver Talles dançar uma
coreografia ridícula tentando se livrar do salto enterrado no seu tímpano.
Sinto agora minhas cicatrizes ardendo e
borbulhando da champanhe derramada sobre elas. Risadas histéricas, ao fundo
algum clássico daquela puta loira dos anos 80. Dançam freneticamente. Será esse
seu ritual de morte? PATÉTICO, sem o mínimo da decência de nossos grandes
feitos, dos dentes quebrados de seus semelhantes no meio fio das ruas de
paralelepípedos. Não posso mentir que estou assustado, preciso reconhecer no
diabo sua força. São três as cavaleiras do inferno, fui
apresentado a elas assim que recobrei a consciência. DEMI a Fina, aquela do
brasão, sua imagem me violenta em todos os sentidos, seu sadismo é tão elegante
quanto os trajes em que está vestida. Repousa minhas mão em baldes de agua fria
me aplicando pequenos choques com o secador de cabelos em punho. E ri sempre
armada de uma taça de um champanhe fino comprado certamente pela herança que um
pai desolado deve ter lhe deixado. Penso em mil formas de combate-las quando
sair daqui. Até o mais cruel dos skins se sensibilizam com os gritos de
misericórdia das libélulas no asfalto. Mas com DEMI seria cruel sem piedade.
Meteria goela abaixo as mais finas marcas de batom até seu estomago explodir na
banha rosa choque desses produtos, mas nada se compara ao que guardaria para
DARLENE a Gentil, seu sotaque de puta brasileira erradicada na França entra nos
meus ouvidos como choques anafiláticos ao mundo de testosterona que fui criado
e pretendo passar pro meu filho. Apelidei-a de Gentil, pois no momento em que
entrei nesse cativeiro tinha a impressão de conseguir seduzi-la em troca de
liberdade, está na cara dela os olhos brilhantes e sedentos de sexo, foi ela
que com a maior das gentilezas me ofereceu um copo d`agua, não podia imaginar
que seria ela também que tiraria da jugular de Talles o cálice de sangue que me
serviria logo depois, DARLENE a Gentil penetra em meus orifícios algumas rosas
que combinam com o enjoativo perfume doce que usa, rosas encharcadas de
querosene afim de queimá-las das pétalas até o talo. Gentil como uma puta
criada na Europa. Penso em todas as atrocidades que sou capaz de cometer. Penso
para conseguir dormir em Paz, pois sei que daqui não saio vivo. Foi
o que ouvi de STEPHÂNIA a Bruta, dura como uma rocha, ela quem respondia aos
meus olhares que gritavam dentro de mim “- CHEGA, por misericórdia!!!” os
motivo dessa captura. Lia nomes de suas amigas abatidas, nomes ridículos,
misturas de divas dos anos 50 com sobrenomes forçadamente sonoros. Tento
me defender quando percebo que nem língua tenho mais, mutilada assim como todos
os dedos da minha mão direita que agora jaz junto ao soco inglês emoldurado na
parede. Desespero, fraquejo, mas retomo minhas forças ao olhar fundo nos olhos
de STEPHÂNIA e ver que neles refletem minha retina. Consigo ver uma imagem... É
nítido!!! Dizem que no fundo dos olhos antes de morrer está gravado, entalhado
a última imagem que te fez sorrir, e pude ver nos grandes olhos da besta... Eu
vi... Refletido dos meus, meu filho e suas veias azuis, meu herdeiro que um dia
ouvirá minhas histórias, que um dia vingará minha morte.
Marco Novack
Publica suas imagens no site: http://www.marconovack.com.br
uau.
ResponderExcluircaramba que produção... que fotografia... que arte... continuem assim galera... abraço Fabiano... até mais!
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